O potencial dos negócios sociais

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Sustentabilidade

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Negócios sociais: o potencial da moda para transformar vidas

Entenda como o conceito de negócio social se relaciona com a moda com Jussara Rocha sócia da empresa Raízes

Publicado em
22/05/2024 18:37

Tempo de
leitura: 18min

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Entenda como o conceito de negócio social se relaciona com a moda com Jussara Rocha sócia da empresa Raízes

A responsabilidade social, se praticada hoje, é garantia de um futuro mais justo e sustentável para todos. Aliás, não apenas no setor da moda, mas em todos os outros. E, veio para ficar. Mais do que nunca, empresas, de qualquer porte, se preocupam com a sustentabilidade e o desenvolvimento das comunidades.

Preocupações com a origem de matérias-primas, reutilização dos materiais e a revisão dos processos de produção são algumas das formas de pensar no futuro. Mas, agora, o conceito de sustentabilidade vai muito além das questões ambientais.

Falar em sustentabilidade, atualmente, também é pensar em geração de impactos positivos para as pessoas através do desenvolvimento econômico; do estímulo à autonomia, autoestima e saúde; e da valorização das riquezas territoriais.

Todas essas ideias fazem parte do conceito de negócio social, que são as atividades e iniciativas que buscam compatibilizar o lucro com as questões relacionadas ao impacto que podem causar em vidas.

No setor da moda, essa visão faz parte de um movimento crescente e que já inspira projetos como o Mãos à Moda, iniciativa do Sebrae Minas em parceria com a Raízes, empresa classificada como negócio social e que atua para reduzir desigualdades e gerar impactos positivos nos territórios.

O projeto Mãos à Moda foi criado para dar autonomia, estimular a economia local, gerar renda e inovação por meio da cadeia produtiva da moda, incentivando o empreendedorismo.

Na entrevista a seguir, Jussara Rocha, sócia da empresa parceira do Sebrae Minas, fala sobre a condução do projeto, o conceito de negócio social e o potencial da moda para transformar vidas e territórios.


 
 


 

Sebrae – Como pode ser definido o conceito de negócio social?

Jussara Rocha – O conceito de negócio social é recente. São negócios que olham para a criação de melhores condições para o mundo e não apenas para eles próprios. Eles querem gerar impactos transformadores positivos para o mundo; compatibilizar lucro com impacto social; criar possibilidades de trabalho com autonomia e atributos das riquezas territoriais; e valorizar as pessoas com um trabalho mais humanizado.

Os negócios sociais trabalham muito com essa dinamização das riquezas locais e do potencial que as pessoas têm, que, muitas vezes, são suprimidos no processo tradicional de modelagem de negócios.

Sebrae – E como esse conceito se relaciona com a moda?

Jussara – A moda é um setor muito amplo e que tem uma cadeia produtiva imensa. Não é apenas uma possibilidade de criar vestimentas. A moda tem atributos que envolvem a forma como nos apresentamos no mundo; como nos expressamos através do vestuário e dos acessórios; e a forma como nos colocamos no mundo.

Isso tem uma simbologia muito grande, porque, além de trabalhar com uma diversidade muito grande, a moda trabalha com a valorização da cultura local, identidade, matérias-primas, técnicas, saberes e ofícios. Você revitaliza e traz luz para um território, fazendo com que ele se sinta valoroso.

Fazemos uma relação, também, com a geração de autoestima, com o sentido de pertencimento das pessoas, de ter, naquele setor da moda, espaço para se valorizar, ainda mais se conseguimos falar pela via do empreendedorismo.

Queremos, especialmente, gerar pequenos negócios que sejam inovadores e colaborativos. Bons para os empreendedores, mas também para aqueles que vão ser parceiros e para os consumidores. Estamos falando de um processo da nova economia.

Então, a moda é um setor que gera impactos positivos nos territórios e isso cria um dinamismo, também, de geração de emprego e renda. Isso cria negócios autorais, próprios e pequenos que dinamizam econômica e socialmente esses territórios.

Sebrae – De que formas um negócio de moda pode gerar impacto, pensando além da sustentabilidade?

Jussara – Estamos falando de impacto expandido, que vai muito além da sustentabilidade ambiental. Falamos, sim, de cuidar do planeta; de olhar para aquilo que estamos construindo; de aproveitar e reaproveitar; e de consumir menos e melhor.

Porém, também estamos falando de fazermos negócios que valorizem pessoas, matérias-primas locais e as possibilidades de colaborações. Também envolve processos para que pessoas sejam incluídas, considerando a diversidade que existe; que o conceito de humanização esteja presente; que o trabalho esteja relacionado com aquilo que as pessoas podem e sabem executar; e que elas possam melhorar e abrir novos horizontes para ir além.

A sustentabilidade deixou de ser uma questão voltada apenas para o ambiente natural. Obviamente, isso é super importante, inclusive na moda, porque estamos falando de toneladas de roupas que vão para lixões em muitos destinos no mundo.

Mas, isso significa, também, que temos que fazer um processo educacional que parte do princípio da inclusão, de trazer as pessoas para um novo modelo de estar no mundo. Esse é um processo que podemos fazer dentro desse viés de trabalhar o território, estimulando a transformação pelo empreendedorismo de impacto e fazendo com que as pessoas olhem de maneira diferenciada para o trabalho e para a geração de novas formas de produzir.

Por isso, trabalhamos muito, também com os princípios da economia circular, de reaproveitar tudo aquilo que é possível; e com os princípios da regeneração, daquilo que está à nossa disposição, mas está sendo degradado e precisamos ajudar a conservar.

Como envolve vários processos produtivos, a moda permite que olhemos para todas essas esferas de uma forma muito abrangente.

Sebrae – Você diria que ter responsabilidade social é, hoje, um valor fundamental para qualquer negócio de moda?

Jussara – A responsabilidade social é um valor imprescindível para todos os negócios, especialmente os de moda. Esse é um movimento recente e crescente. As pessoas estão cada vez mais preocupadas com os valores que uma marca traz com ela.

A marca está respeitando o ambiente natural, as pessoas e os animais? Ela utiliza trabalho escravo ou infantil? Trabalha com matérias-primas naturais e, ao mesmo tempo, preserva as florestas?

É uma marca que está preservando a autoralidade, a riqueza de um território? Ela traz a cultura genuína ou está importando e só fazendo uma apropriação cultural de outra localidade? As pessoas são respeitadas internamente? Estão sendo incluídas, qualificadas, tendo a chance de se posicionar e experimentar?

Isso tudo tem sido visto e, na moda, é fundamental. Vemos, cada vez mais, uma conexão grande da moda com outras áreas, como artesanato e cultura.

Com a natureza, então, nem se fala. Estamos vendo pesquisas de inovação para a produção têxtil, utilizando materiais veganos; fibras naturais; manejos responsáveis; e rastreamentos para saber a origem das matérias-primas.

É um movimento que vemos, com muita alegria, que está crescendo e é observado, cada vez mais, pelos consumidores.

Sebrae - Quando pensamos no potencial amplo da moda para essas transformações, estamos falando em quais tipos de trabalhos?

Jussara – São inúmeras possibilidades de criação de negócios que envolvem a cadeia produtiva da moda e que envolvem, por exemplo, pequenos fornecedores de confecções ou fábricas de acessórios. Ou, então, estúdios de fotografia de moda.

Também estamos falando de costureiras, bordadeiras, tingidores, pessoas que fazem modelagem e mestres artesãos. Envolve, ainda, o manejo de matérias-primas, chegando, às vezes, até o produtor rural para ter acesso a materiais que estão no entorno de um território e que podem ser importantes, por exemplo, para um processo de tingimento natural.

Então, isso corresponde a uma cadeia produtiva enorme. Se organizada e profissionalizada, ela gera renda, dinamização econômica, valorização e pertencimento a um lugar. Isso é muito forte para um território, principalmente quando ele já tem uma cultura muito rica e que pode ser ainda mais valorizada em outras esferas.

Sebrae – Agora, estamos falando de responsabilidade social, mas ela não pode ficar somente no discurso, não é?

Jussara – Essa é a questão principal. Hoje em dia, ouvimos falar muito em ESG (sigla de Environmental, Social e Governance ou Meio Ambiente, Social e Governança, na tradução) e isso é uma demanda mundial.

As grandes corporações têm demandado o olhar dos pares, parceiros e fornecedores para essas premissas, que não são mais apenas sobre responsabilidade ambiental, mas, também, sobre a área social e de governança, transparência e lisura.

Esses três pilares são muito importantes hoje e estão sendo demandados, cada vez mais, por empresas de todos os portes.

O que ocorre é que, como essa é uma demanda para que a economia continue girando, muitas empresas começam a implantar essas premissas e ações, mas outras apenas falam que estão fazendo e, na prática, isso é muito incipiente ou quase inexistente.

Essa questão da responsabilidade, não só social, mas também ambiental e de governança, é muito séria e fala muito sobre reputação.

Ser verdadeiro é imprescindível. Sempre foi, não deveria ser algo tão falado, mas vemos que o greenwashing (termo em inglês para a injustificada apropriação de virtudes ambientalistas) faz parte desse mundo e do modelo capitalista tradicional. Vemos muito isso de informações fake que nos fazem achar que aquele é o modelo comunicado, mas, na prática, não é.

Sebrae – O que é o projeto Mãos à Moda e como ele está articulado ao tema que estamos discutindo?

Jussara – O Mãos à Moda é um projeto do Sebrae Minas, cocriado pelo setor de moda e junto com a Raízes. Ele pretende ter a moda autoral como vetor de impacto de transformações nos territórios em que é implantado.

Nossa primeira edição acontece em Almenara, na Vale do Jequitinhonha. O projeto conta com a parceria da prefeitura do município, que tem essa visão de gerar impacto através da inovação e da cocriação com o território. Temos que ressaltar isso, porque é uma visão que não é, digamos, tão recorrente na gestão pública, porque esses processos não são rápidos.

Quando falamos em transformação territorial, estamos falando de pessoas, de mudar a vida delas e trazer impactos positivos, algo que não acontece da noite para o dia. Esse é um projeto de médio prazo, com duração de 24 meses.

Sebrae – Como o projeto se desenvolve?

Jussara – O Mãos à Moda começa com o entendimento do território e o mapeamento de todas as possibilidades que aquela localidade nos dá para trabalhar. Partimos do mapeamento cultural; de símbolos e significados; histórico; de quem são as pessoas que estão ali influenciando; e quais os projetos que já foram realizados, para que não haja sobreposição. Queremos trabalhar com processos que complementem uma dinâmica de desenvolvimento do lugar ou que somem.

A partir desse mapeamento, começamos a trabalhar um processo de formação. Muitas vezes, esse levantamento nos traz as riquezas do território, mas também os gargalos. Com isso, então, formatamos essa etapa com uma carga horária expressiva de palestras, workshops e seminários.

Já com alguns insumos, seguimos para um processo mais mão na massa, uma etapa que chamamos de laboratório de criatividade. Nessa fase, já temos a visão de alguns negócios criativos e processos para desenvolvimento de novos produtos.

Além da formação empreendedora, temos uma capacitação técnica, porque esse é um projeto cujo viés é o de formar pequenos negócios da cadeia produtiva da moda para eles impactarem no território.

O empreendedorismo é uma linha-chave. Então temos a formação básica; a formação empreendedora para negócios de moda; e, também, uma etapa de produção mesmo, com formação técnica de costura e modelagem, por exemplo. Isso dá consistência ao projeto e atende ao máximo as atividades profissionais da cadeia produtiva.

Sebrae – O projeto também conta com processos de incubação e acesso ao mercado, correto?

Jussara – Depois da formação, entramos no processo de incubação. Selecionamos negócios que se destacam no laboratório de criatividade e na formação dos negócios de moda como negócios potenciais. Eles recebem um capital-semente para dar início aos trabalhos, mas continuamos a atender todos os outros participantes.

Então, entramos na última etapa, que é a do acesso ao mercado. Após modelarmos os negócios na incubação e criarmos um portfólio de pequenos negócios de moda, começamos um processo de articulação regional e nacional, com eventos de moda e rodadas de negócios. Tudo isso ao longo dos 24 meses.

Sebrae – Almenara é o projeto-piloto do Mãos à Moda. Já há previsão de realização em outras cidades?

Jussara – O Sebrae já teve sinalização de outros municípios interessados. Esse vai ser um movimento crescente e que promete ter resultados bem interessantes e associados à autoralidade, à identidade de um lugar.

Em Almenara, por exemplo, no mapeamento, encontramos uma riqueza de arte popular gigantesca. Então, resolvemos fazer um caderno de saberes, ofícios e tradições, porque mapeamos vários mestres de ofícios, o que é muito raro de encontrar.

Fizemos o registro desses mestres, lançamos o caderno, homenageamos esses profissionais em vida e, agora, eles podem fazer oficinas para que seus ofícios não sejam perdidos.

Em outros territórios, pode ser que não encontremos essa, mas uma outra fonte de riqueza. Por isso, o projeto é muito interessante, porque ele não é uma receita de bolo.

Sebrae – Qual a importância de transformar vidas através de um projeto como esse?

Jussara – Isso é o sentido do nosso trabalho, de olharmos para um lugar e falarmos de desenvolvimento, de oportunizar pessoas, formas delas se verem incluídas e valorizadas através do trabalho, conhecimento e geração de renda.

Quando falamos de um projeto dessa natureza, fazemos questão de trabalhar indicadores qualitativos, porque esses são valiosos. Óbvio que queremos saber quantas pessoas foram qualificadas ou quantos negócios foram implementados.

Todos esses números são muito importantes, mas também precisamos medir quão mais felizes as pessoas estão; quanto as pessoas viram sentido e prazer na qualificação; quantas mulheres estão se sentindo mais empoderadas e valorizadas; o quanto as pessoas se sentem incluídas; e o quanto estão mais saudáveis. Todos esses são indicadores que coletamos e são muito significativos.

São essas questões que fazem as mudanças acontecerem. É um movimento de qualidade de vida e valorização da saúde, aprendizado, empoderamento e autoestima. Tudo isso faz com que os números apareçam. Se eu não estiver bem, eu não vou gerar um negócio e, consequentemente, não vou faturar.

Temos um cuidado muito grande com as pessoas durante todo o processo de produção, com profissionais ligados ao desenvolvimento psicossocial que as acompanham, porque as mudanças são muitas. Elas começam com os beneficiários. Depois, se dão nas famílias e, em seguida, nos territórios, do ponto de vista social. É uma corrente, uma responsabilidade grande e algo muito bonito.

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