A economia criativa é um importante pilar do desenvolvimento econômico brasileiro e os números estão aí para provar isso.
Um levantamento realizado pelo Observatório Itaú Cultural mostra que, em 2020, as atividades do setor movimentaram R$ 230,14 bilhões, o que equivale a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB).
Ainda de acordo com os dados, o percentual supera o índice da indústria automobilística, que registrou um valor de 2,1% no mesmo período.
Além disso, a economia criativa é responsável por 7,4 milhões de empregos formais e informais no país, o equivalente a 7% do total dos trabalhadores brasileiros.
A vocação cultural pode levar o setor além. Ainda há muito potencial a ser desenvolvido pela economia criativa.
A cultura e a identidade brasileiras podem ser usadas estrategicamente para influenciar e gerar atração para, com isso, impulsionar ainda mais o desenvolvimento econômico.
Essa força do setor cultural já ganhou até um nome: soft power. É sobre esse conceito que vamos falar a partir de agora.

Soft power: o que é?
Soft power é um termo criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye, no final da década de 80. Anos depois, em 2004, o acadêmico se dedicou ao desenvolvimento do conceito no livro “Soft Power: The Means to Success in World Politics”.
Traduzido como poder brando, o soft power é definido como a capacidade de gerar atração e influenciar indiretamente através do exemplo. Essa influência tem efeito, geralmente, antes de uma tomada de decisão.
Existem três grandes fontes de soft power:
- Cultura;
- Valores políticos;
- Política externa.
Há, ainda, o hard power, conceito que se opõe ao soft power e é caracterizado pela influência a partir de demonstrações bélicas ou econômicas de força.
Sanções econômicas, incentivos financeiros e ações militares são algumas das formas de exercer o hard power.
Cultura como soft power
Dentro do contexto de soft power, Joseph Nye definiu cultura como “um conjunto de práticas que dão significado a uma sociedade”.
Nesse sentido, as estratégias de soft power estimulam o investimento em produtos culturais que possam ser exportados para atrair turismo, dominação cultural e até estreitamento de laços entre povos.
Através do soft power, é possível atrair investimentos e contribuir para o desenvolvimento sem a necessidade de estabelecer alianças econômicas formais, que ficam a cargo do hard power.
As atividades de economia criativa têm, então, as vocações diretamente ligadas a essa forma de poder brando, que pode ser exercido através:
- Do audiovisual;
- Da literatura;
- Das artes plásticas;
- Da música popular.
Exemplos de soft power
Estados Unidos
Hollywood, a indústria de cinema norte-americana, é um instrumento que exerce o soft power e leva, ainda hoje, o conceito de “American Way of Life” para o mundo todo.
Exportando o estilo e os sonhos de um ideal de vida norte-americano, o cinema é responsável por fazer com que outras nações incorporem a cultura do país.
Estrategicamente, Hollywood também dissemina influência política, especialmente no que diz respeito ao posicionamento dos Estados Unidos em guerras e à criação de uma visão de país heroico.
Para que isso pudesse acontecer, Hollywood recebeu grandes investimentos do governo e se transformou em uma indústria capaz de gerar atração em todo o mundo.
Coreia do Sul
A estratégia da Coreia do Sul é um dos exemplos recentes mais bem-sucedidos de soft power e começou a ser traçada em 1993.
O governo do país percebeu o potencial lucrativo da indústria cinematográfica com o sucesso do filme “Jurassic Park”, produção norte-americana que faturou o equivalente à venda de 1,5 milhão de carros Hyundai, que era o produto mais valioso do país na época.
Essa percepção fez com que a Coreia do Sul formulasse leis para impulsionar o capital privado do setor.
Além disso, o país ampliou os mecanismos públicos e privados de incentivo à cultura, o que resultou em um crescimento da produção.
Isso não aconteceu só com o cinema. A mesma estratégia de apoio e financiamento governamental também foi usada para desenvolver outras áreas, como a música e as séries de TV, conhecidas como doramas (dramas coreanos).
Hoje, os resultados estão evidentes e ganharam até um nome: a Hallyu ou “onda coreana”.
Os investimentos fizeram o filme “Parasita” ganhar o Oscar de melhor produção em 2020. Foi a primeira vez que um longa-metragem falado em língua não-inglesa conquistou o principal prêmio do cinema mundial.
Da mesma forma, os doramas têm audiências significativas nas plataformas de streaming e o K-Pop, estilo de música coreano, se popularizou no mundo inteiro.
Soft power no Brasil
O soft power brasileiro é exercido de algumas formas: através das novelas, da bossa nova, do carnaval e, até mesmo, do futebol.
No entanto, ainda há muito potencial a ser explorado, especialmente no setor da economia criativa.
Investimentos em audiovisual, em um movimento de retomada das atividades do setor pós-pandemia, podem fazer parte de uma estratégia nacional de soft power, considerando a identidade cultural do país e utilizando-a para proporcionar desenvolvimento econômico.
Estruturação
Para que esse desenvolvimento possa acontecer, o fortalecimento das políticas públicas e das leis de incentivo, envolvendo também o setor privado, exerce uma função central.
A revisão de modelos de financiamento e o acesso a linhas de crédito públicas e privadas também são instrumentos importantes.
É necessário mencionar, ainda, a relevância do desenvolvimento de talentos e de ações que possam baratear a importação de insumos para o setor.
O desenvolvimento da cultura como soft power brasileiro depende da criação dessas oportunidades.
Estratégias regionais
Apesar de ser um conceito criado a partir das relações de poder internacionais, o soft power também pode ser adaptado para atrair investimentos econômicos na esfera regional.
Estratégias podem ser traçadas para desenvolver atividades a partir da singularidade territorial, das características culturais que diferenciam uma região.
A identidade regional e a influência dela em áreas como dança, música, artesanato e no audiovisual podem nortear todo o desenvolvimento de uma cadeia de produção cultural.
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