Por ser composta por uma série de processos, uma obra também apresenta muitos desafios aos profissionais envolvidos em todas as etapas da construção.
Nesse cenário, o gestor da obra exerce uma função essencial. Esse profissional deve equilibrar competências técnicas e de liderança, além de se envolver em todas as etapas da cadeia de produção.
A relevância da função estimulou o Sebrae Minas a disponibilizar um curso voltado às empresas que desejam aprimorar esses conhecimentos.
Nesta entrevista, o engenheiro civil e mestre em engenharia de produção, Roberto Guidugli, fala sobre o papel de gestor em todas as áreas de uma obra.
Sebrae Minas – Tocar uma obra é o mesmo que gerenciar uma obra?
Roberto Guidugli – Tocar uma obra ou um projeto é uma expressão muito comum, mas eu faço uma diferenciação grande com gerenciar.
O “tocar” dá uma sensação de empirismo, de tentativa e de erro. Quando falamos em gerenciar, envolve métodos e ferramentas para serem usadas no gerenciamento.
Então, gerenciar vai ser mais eficaz, os resultados vão aparecer com uma lógica bem mais previsível do que tocar uma obra. Tocar é para leigo. Quando uma pessoa gerencia, ela utiliza um conhecimento e boas práticas comuns no mundo todo. A diferença é essa.
Sebrae Minas – Por se envolver em todos os processos, o gerente precisa ser um profissional bem completo, não é?
Guidugli - O gerente precisa estar muito bem-preparado. O gerenciamento de obra é formado por dez áreas de conhecimento: escopo, tempo, custos, aquisições, recursos, qualidade, riscos, integração, partes interessadas e comunicação.
Todas as áreas possuem métodos, técnicas e processos que o gerente precisa conhecer. Ele pode não ser um especialista em cada um dos temas, mas é necessário que ele seja um bom generalista.
Apesar dessas dez áreas de conhecimento, o cliente só quer saber de três delas: se a obra está no prazo; se está com a qualidade combinada, o escopo; e se ela está no custo. Agora, para atingi-las e deixar o cliente satisfeito, temos que gerenciar as outras sete áreas.
Sebrae Minas – O planejamento é um fator primordial para o sucesso do gerenciamento de obra?
Guidugli - Sem dúvidas. Nós, ocidentais, não somos muito afeitos ao planejamento, achamos perda de tempo e que tudo vai mudar mesmo.
Eu costumo dizer o seguinte: sem planejamento, é certeza de fracasso. O planejamento não garante o sucesso, mas com ele fica mais fácil colocar o que está acontecendo no entorno. Então, o planejamento é fundamental. Assim como ter um bom cronograma; um orçamento; o planejamento dos equipamentos e recursos humanos que vão ser usados; e conhecer profundamente as técnicas e as etapas.
Sebrae Minas – O prazo é um dos principais desafios nas obras. Por que os cronogramas atrasam?
Guidugli - Eu vou afirmar aqui: quase 99% delas atrasam por falta de planejamento, pela falta de conhecimento e por não saber utilizar as ferramentas de gerenciamento de tempo.
A primeira ferramenta é o que chamamos de cronograma, que é o Gráfico de Gantt e foi inventado na década de 1920. Na construção civil, existe até uma brincadeira de mau gosto que fala que cronograma foi feito para ser furado. Em outras palavras, quem acredita em cronograma acredita em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa.
Mas, na verdade, o cronograma é uma peça importantíssima. É necessário desenhar um bom cronograma até o nível de detalhamento que interesse ao gerenciamento.
A segunda ferramenta, chamada de Diagrama de Rede ou PERT/COM, foi inventada por volta de 1956 e 1958 e estabelece o caminho crítico da obra.
Todo projeto tem um caminho crítico, ou seja, se eu atrasar uma tarefa do caminho crítico, eu atraso toda a obra. A má notícia é que o atraso não é proporcional, pode ser muito maior.
Por exemplo: uma pessoa vai para o Aeroporto Internacional de Confins pegar um voo internacional e acontece algum problema de trânsito. Ela perde o voo por causa de uma hora. Quanto tempo atrasou a viagem? Uma semana? Quinze dias? Então, ela perdeu uma hora, mas atrasou muito mais. Essa é a segunda ferramenta.
A terceira surgiu lá por 1996 e é conhecida como Planejamento e controle de atividades de curto prazo. Aí é que está o segredo para não atrasar a obra ou, talvez, até adiantá-la. Eu costumo dizer que é o elo perdido do planejamento e controle.
Você planeja as atividades com uma antecedência de quatro semanas analisando o projeto, alocando recursos e treinando pessoal. Então, o grau de incerteza vai cair muito.
Imagine uma obra que dura dois anos, o que nós temos de certeza que vai acontecer nesse período? Nenhuma! O que vai acontecer daqui quatro semanas? O grau de certeza é bem maior.
Então, essas três ferramentas garantem o cumprimento dos prazos. Poucas pessoas conhecem isso, infelizmente.
Sebrae Minas – Considerando que a margem líquida de uma empresa do setor da construção civil costuma ser apertada, qual a melhor forma de controlar os custos de uma obra?
Guidugli - Primeira coisa: um orçamento muito bem detalhado. O orçamento nasce no projeto, que vai gerar as quantidades e as especificações de produtos.
Um orçamentista consegue fazer um bom orçamento e, inclusive, estabelecer todos os detalhes, por exemplo, o acordo promovido pelo Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil). Tudo tem que estar constando lá, lucro pretendido e, em geral, preço de venda.
Outra ferramenta que ajuda muito é a curva ABC, que hierarquiza todos os itens do orçamento, em ordem decrescente de participação. Ela pode ser feita para materiais, equipamentos, serviços e mão de obra.
Por exemplo: uma família tem uma renda e gastos. Vamos imaginar que ela está pagando a prestação de um apartamento. Provavelmente, esse seja o maior gasto da família. O segundo seria a faculdade do filho; o terceiro, a prestação do carro; e, vai descendo. É nessa ordem.
Normalmente, essa curva ABC, também chamada de regra 80/20, diz o seguinte: 20% dos itens representam 80% dos gastos. Então, se uma obra tem 300 itens, 15 deles representam 80% dela. Isso significa que é ali que eu vou ter que trabalhar; fazer uma boa compra e pesquisa; e conversar com os projetistas para saber se é possível substituir materiais mantendo a qualidade. Então, há muita coisa a ser feita para preservar os custos.
Sebrae Minas – Em um canteiro de obras, alguns dos principais cuidados estão relacionados aos aspectos ambientais. Como atender às exigências dessa natureza?
Guidugli - A legislação ambiental é complexa. Um gerente que tiver dúvidas deve consultar um especialista.
Nós temos três níveis de legislação: municipal, estadual e federal. Normalmente, se eu estou construindo uma casa ou um prédio, vou estar sujeito à legislação municipal. Se eu estou construindo uma estrada, pode ser que eu esteja sujeito à legislação estadual. E, em obras maiores, à legislação federal.
Hoje, não temos como fugir disso e nem devemos. A construção civil causa um impacto muito grande no meio ambiente em todos os sentidos, como na hora de fazer terraplanagens ou uma supressão de vegetação. Nós temos que ter ações mitigadoras para compensar esse impacto que está sendo causado.
Uma questão seríssima, na construção civil, é o descarte de resíduos. Antes, você chamava uma caçamba, jogava tudo lá dentro e ponto final. Hoje, não. Por exemplo, toda a parte de gesso tem toda uma legislação específica para ser tratada.
No nível municipal, é bem mais tranquilo procurar a prefeitura, que normalmente tem as suas regras. Um ponto crítico nessa questão dos trâmites de licenciamento ambiental são os prazos, geralmente muito longos. Então, é preciso ficar em cima mesmo.
Muitas vezes, o município ou o estado não têm fiscais para fazer o licenciamento e isso toma um tempo danado. E, tempo é dinheiro.
Sebrae Minas – Qual o papel do gerente na criação de um bom ambiente de trabalho no canteiro de obras?
Guidugli - Esse papel é fundamental e, vou confessar, é o mais difícil. O melhor sistema é uma boa comunicação, por exemplo, a realização de reuniões periódicas que permitam que encarregados, prestadores de serviços e mestres tenham a palavra. É preciso ter um ambiente franco e de camaradagem. Não é preciso ser autoritário, é necessário exercer a autoridade. É diferente.
Eu vejo, como melhor sistema, ter murais para publicar informações e, com isso, evitar o que chamamos de “rádio peão” e fofocas. Também é preciso estar aberto a críticas. Isso vai criando uma relação de confiança que é muito boa. Muitas construtoras adotam o DDS (Diálogo Diário de Segurança). Antes de começar o dia, pela manhã, todos os operários se reúnem e discutem um tema de segurança.
Poucas pessoas comemoram, por exemplo, o dia do marceneiro, do pedreiro, do armador. São pequenas valorizações que dão um resultado enorme.
Sebrae Minas – Como o curso do Sebrae auxilia na preparação de um profissional para exercer o gerenciamento de obra?
Guidugli - O curso do Sebrae Minas tem o objetivo de capacitar os profissionais para gerenciar uma obra. Nós passamos pelas dez áreas com muitos exemplos e ferramentas de custo zero. Não há nada que exija a compra de um software complexo e caro para gerenciar. Tudo é custo zero.
São ferramentas simples e que podem ser aplicadas no dia seguinte à aula. Também não é necessário ter a autorização de um diretor. Essas ferramentas trazem eficácia.
Também mostramos a importância de ter conceito. Às vezes, eu começo a aula, logo no início do curso, perguntando o que é eficiência e eficácia e muitos não sabem a diferença.
Um gerente tem que ser eficiente, buscar eficiência da equipe e ser eficaz. Agora, se não sabe o conceito, como faz para gerenciar a obra? É um curso muito maduro, já fizemos várias edições e é muito bem avaliado.
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